Câmara deve propor nova legislação para melhorar saúde dos bancários
02/09/2016
São Paulo – Metas muito altas e ambiente de trabalho desfavorável estão causando afastamento e morte dos trabalhadores do sistema financeiro. Diante dessa perspectiva, a Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos deputados realizou em Brasília, o seminário O Preço da Saúde Mental no Trabalho Bancário e discutiu com especialistas e representantes da categoria formas de humanizar o trabalho e diminuir o estresse entre os bancários.
A deputada Erika Kokay (PT-DF), autora do requerimento para a realização do seminário, explicou que a Câmara deverá propor nova legislação que regulamente o setor e minimize os problemas enfrentados atualmente pelos bancários.
"O ser humano precisa ser priorizado no local de trabalho, até porque o trabalho é uma ação estruturante da nossa humanidade e não pode representar sofrimento. O trabalho é um lugar onde a gente tem que se achar e se reconhecer, enquanto ser humano. Não pode ser um lugar onde a gente perde a nossa saúde, onde a gente perde os nossos tendões, nossos sonhos e esperanças", disse a deputada em entrevista à repórter Carla Alessandra, da Rádio Câmara.
O presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília, Eduardo Araújo, explicou que a taxa de adoecimento de funcionários de instituições financeiras está diretamente ligada à forma como o trabalho está organizado atualmente.
"Nós temos pesquisa que aponta risco de adoecimento de 40% dos bancários em função da pressão por metas que são impostas e também da falta de descanso. As pessoas não têm mais a possibilidade de parar um pouco e relaxar, ficam constantemente ligadas. Daí vem outra questão que é o assédio moral, em função dessas metas que são inatingíveis", diz Araújo.
A Universidade de Brasília (UnB) realizou pesquisa, a pedido do sindicato, que apontou os principais problemas enfrentados pela categoria. Entre eles, estão a transformação do bancário em vendedor de serviços e a avaliação individual dos funcionários do setor financeiro, que está levando a um trabalho cada vez mais isolado.
Também presente no seminário, o médico e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Álvaro Crespo explicou que, nos últimos cinco anos, na clínica de saúde do trabalhador da universidade, as queixas dos bancários mudaram de doenças ósseas e musculares para doenças mentais, que muitas vezes não são reconhecidas pelo próprio paciente.
"As pessoas não vão por causa da saúde mental, vão pela dor no ombro. Quando a gente pergunta da sua relação com o trabalho, muito frequentemente a pessoa se bota a chorar. As pessoas vêm de longos processos de solidão. Esses modelos de gestão provocam longos processos de solidão. As pessoas são colocadas em isolamento e competição uma contra as outras. Essa é a característica desse modelo", relatou o médico.
Fonte: Rede Brasil Atual